A febre tifoide (FT) é uma doença gastrintestinal causada pela bactéria gram-negativa Salmonella entérica do sorotipo Typhi (S. typhi).
Esta enfermidade é transmitida pelo consumo de água e alimentos contaminados ou pelo contato direto, em razão da presença de bacilos eliminados nas fezes e urina humanas dos portadores da doença ativa ou nas fezes dos portadores assintomáticos.
Embora haja casos registrados no mundo todo, a enfermidade é endêmica nos locais em que as condições sanitárias e de higiene inexistem ou são inadequadas. Acomete com maior frequência indivíduos entre 15 a 45 anos.
A transmissão se dá exclusivamente por via fecal-oral. Ao penetrar no organismo, as bactérias que não são destruídas pelo suco gástrico no estômago, atravessam a parede do intestino delgado e caem na corrente sanguínea. Nessa fase, surgem os primeiros sintomas. Como a Salmonella typhi pode multiplicar-se no interior das células de defesa, a infecção se dissemina pelo organismo. Os órgãos mais afetados costumam ser o fígado, baço, vesícula, medula óssea e todo o intestino.
SINTOMAS
Os sintomas podem ser de leves a graves e costumam surgir de forma insidiosa, com aumento gradual de fadiga e febre, a qual pode atingir temperaturas tão altas quanto 40°C no 3º ou 4º dia de doença. A febre, que costuma ser mais baixa pela manhã e aumentar ao final do dia, é o sintoma mais frequente; pode estar acompanhada de mal-estar, cefaleia, anorexia e hepatoesplenomegalia. Ocasionalmente, pode ser observado exantema macular róseo transitório na região do tronco, também conhecido como roséola tífica.
Pode ocorrer tanto constipação intestinal como diarreia (nas crianças, a diarreia é mais frequente, apesar de geralmente apresentarem doença menos grave). Podem ainda estar presentes bradicardia relativa (dissociação pulso-temperatura) e tosse seca.
Sem tratamento, esses sintomas se agravam e podem surgir complicações graves, como hemorragias abdominais e perfuração do intestino, com risco de o quadro evoluir para septicemia, coma e morte.
Algumas pessoas são portadoras crônicas, mas assintomáticas da Salmonella, e podem transmiti-la nas fezes, o que dificulta o controle da doença.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico leva em conta a avaliação clínica do paciente e o isolamento da bactéria por meio de exames laboratoriais de hemocultura, coprocultura, mielocultura e pela reação sorológica de Widal. Esse isolamento é fundamental para estabelecer o diagnóstico diferencial com outras patologias intestinais que apresentam sintomas semelhantes.
PREVENÇÃO
Existem duas vacinas disponíveis contra a FT no mundo: a atenuada oral e a polissacarídica inativada injetável. A vacina atenuada é licenciada em 56 países na África, na Ásia, nas Américas e na Europa e não é licenciada no Brasil. O problema é que nenhuma delas oferece imunização completa nem está indicada nas situações de risco de epidemias.
1) vacina atenuada (Ty21), é administrada por via oral em quatro doses, em dias alternados;
2) a vacina parenteral de polissacarídeos (Vi CPS) é administrada em dose única por via intramuscular. Esta é recomendada para viajantes com idade a partir de 2 anos que se dirigem para áreas de risco de exposição a S. typhi. Esta vacina não protege contra infecção por S. paratyphi, causador da febre paratifoide, que é uma doença semelhante à Febre tifoide, porém mais leve e com menor taxa de mortalidade.
A única contra indicação a esta vacina são histórias anteriores de reações alérgicas graves. É segura para imunodeprimidos, embora a eficácia da vacina possa estar diminuída.
Por ser inativada, teoricamente não apresentaria riscos na gestação, porém, como não existem informações sobre a segurança da vacina durante a gravidez, é prudente evitar a vacinação em gestantes.
Os viajantes devem ser orientados a respeito da eficácia da vacina, que não é de 100%, e que a FT ainda pode se manifestar.
ESQUEMA VACINAL
O esquema básico de vacinação compreende uma dose de 0,5mL, por via subcutânea ou intramuscular. Se houver retorno ou exposição contínua aos risco, recomenda-se vacinar novamente a cada dois anos. A duração da proteção é de aproximadamente três anos. A vacina deve ser administrada pelo menos duas semanas antes da exposição ao risco.
RECOMENDAÇÕES
* Lave bem as mãos, especialmente depois de ter usado o banheiro, antes das refeições e quando for lidar com alimentos;
* Informe-se sobre medidas de proteção que deve tomar antes de viajar para lugares considerados de risco para a infecção pela Salmonella;
* Não consuma alimentos crus, mal cozidos, ou conservados à temperatura ambiente nem os oferecidos por ambulantes em locais considerados de risco para a febre tifoide;
* Beba somente água fervida ou engarrafada com gás e exija que as garrafas sejam abertas na sua presença, quando suspeitar que as condições sanitárias e de higiene são precárias;
* Siga as orientações médicas sobre a conveniência de ser vacinado contra a febre tifoide, antes de viajar para lugares com risco maior de infecção pela Salmonella tiphi.
TRATAMENTO
O tratamento da febre tifoide inclui a administração de antibióticos e a reidratação do paciente, e deve começar tão logo seja levantada a possibilidade da infecção.
Repouso, dieta leve e sem resíduos, ingestão maior de líquidos são medidas de suporte importantes durante a vigência da infecção e no período de convalescença que pode ser longo. Nos dois extremos da vida, infância e velhice, assim como durante a gestação, os doentes são mais vulneráveis a complicações.
Embora o acompanhamento dos pacientes possa ser realizado ambulatorialmente, ao menor sinal de agravamento do quadro, eles devem ser encaminhados para atendimento médico-hospitalar.